
Primórdios e regulamentação:
No Brasil, já em 1500 com a descoberta, o país já iniciava os primeiros passos da história da área de contabilidade. Mas foi somente no ano de 1770 que surgiu a primeira regulamentação da profissão contábil no Brasil, quando Dom José I, rei de Portugal, expediu uma carta de lei para vigorar nos domínios lusitanos a obrigatoriedade de registro da matrícula de todos os guarda-livros na junta comercial. Neste momento o profissional contábil recebia o nome de guarda-livros.
Em 1808, quando a Família Real chegou ao Brasil, o rei de Portugal decidiu criar o Erário Régio. No ato de criação adotou-se o método das partidas dobradas. Em 1831, sancionada a Lei de 4 de outubro, da Organização do Tesouro Publico Nacional e as Tesourarias das Províncias, que adota o método da escrituração mercantil por partidas dobradas no setor público. A escrituração só poderia ser realizada por pessoas que estudassem aulas de comércio, que foi oficializada pelo Alvará de 15 de julho de 1809.
No ano de 1850 foi estabelecido pelo imperador D. Pedro II, o Código Comercial Brasileiro, com o objetivo de regulamentar os procedimentos contábeis, obrigando os estabelecimentos comerciais a preparar as escriturações dos livros, descrevendo os fatos patrimoniais. Esses procedimentos eram feitos pelos guarda-livros, qualificados pelo código como preposto do comerciante.
A Lei Nº 1.083 de 22 de Agosto de 1860, considerada a “primeira lei das SA”, Porém não foi à primeira lei no Brasil Império a tratar das sociedades por ações. O Decreto 2484, de 5 de junho de 1858 já indicava algumas regras, como a necessidade de divulgação aos acionistas, anualmente, do “balanço da receita e despesa”. Em seu artigo 25, indicava a obrigação de se ter pelo menos um guarda-livros para conservar em devida ordem a escrituração.
O Decreto 2433, de 1859, é outra norma interessante. Este decreto apresenta muito mais detalhes contábeis que a própria Lei 1083. Assim, segundo este decreto, a contabilidade dos defuntos e ausentes seria realizada em quatro livros: registro dos inventários, termos de leilão, de razão e de receita e despesa. O artigo 16 do decreto esclarece como seria feito o livro razão e o artigo 17 detalha o livro de receita e despesa.
Um ano antes da Lei 1083, o Decreto 2457, de 5 de setembro de 1859, impôs obrigações aos bancos e sociedades anônimas. Este decreto foi importante, pois trata da evidenciação de informação contábil dos bancos e sociedades anônimas. E era bem mais rigoroso que o decreto 2679, já que obrigava que no primeiro dia da semana os bancos a encaminhar certas informações para o governo. Para a contabilidade, o Decreto 2679 foi muito relevante, apesar de estar mais focada nos bancos. Talvez seja a primeira norma mais detalhada sobre a contabilidade no Brasil.
No ano de 1870, é realizada a primeira regulamentação do Brasil para a profissão contábil, através do Decreto Imperial n°4.475. Sendo assim a profissão de Guarda-Livros é avaliada como a primeira ocupação liberal regulamentada no Brasil. O crescimento do número de profissionais trouxe, como consequência, a reunião em associações. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Associação de Guarda-Livros foi criada em 1876.
Desenvolvimento da profissão:
Em 1915 ocorre a fundação do Instituto Brasileiro de Contadores Fiscais. Logo depois surge o Instituto Brasileiro de Contabilidade no Rio de Janeiro. Em 1924 acontece o 1° Congresso Brasileiro de Contabilidade, onde são difundidas campanhas para a regulamentação de contador e a reforma do ensino comercial no país.
Aumenta-se o desenvolvimento da profissão contábil, de modo que em 1927 é inaugurado o Conselho Perpétuo, o início do que seria, já no século XXI, os sistemas: Conselho Federal e Conselho Regional de Contabilidade. Era conferida já nesta instituição a matricula para os novos profissionais habilitados para as atividades na área de contabilidade.
A profissão finalmente é regulamentada:
Foi neste período onde muitos problemas políticos começam a surgir, entre elas a chegada de Getúlio Vargas à posse no ano de 1930. No ano consequente ocorre a primeira conquista da classe contábil, onde é admitido o Decreto Federal nº 20158, regulamentando-se a profissão e organizando o ensino comercial. Neste tempo é criado o curso de contabilidade, onde eram formados dois tipos de profissionais: o primeiro era os guarda-livros, que realizavam o curso em dois anos e os perito-contadores, que realizavam o curso em três anos.
No transcorrer dos anos muitas conquistas foram obtidas pela classe. No ano de 1932 é sancionado o Decreto n° 21.033, onde se institui novas condições para o registro de contadores e guarda-livros. A partir desta lei, foram decididos os problemas existentes pelos profissionais da área, que exibiam somente o conhecimento prático. Sendo assim foram determinados os prazos e as condições para os registros dos profissionais desta área. Foi então nesta ocasião, que o exercício da profissão contábil começou a ser conectada à preparação escolar, assim sendo, aqueles que desejassem seguir a carreira, teriam que estudar.
Crescimento da profissão:
Em seguida o caminho da profissão cresceu no país, onde é criado o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Uma das primeiras medidas alcançadas pelo Conselho Federal foi à criação de condições para o funcionamento e a disposição dos Conselhos Regionais.
Logo depois é aprovada a Resolução n°1/46, que dispõe sobre a organização dos Conselhos Regionais de Contabilidade, onde são criadas as primeiras regras para a profissão. Atualmente existe um Conselho de Contabilidade em cada estado do país. O registro de profissionais foi a primeira ação alcançada pelos Conselhos Regionais. Depois de um tempo iniciou-se as atividades de fiscalização, que até é muito discutida presentemente em todas as reuniões do sistema.
Atualmente:
Hoje, além da fiscalização e do registro dos profissionais, os Conselhos Regionais possuem parcerias com o Conselho Federal e universidades, permitindo aos profissionais da área condições de se qualificarem, devido às cobranças do mercado de trabalho, além de apresentar para a sociedade serviços de qualidade.
De guarda-livros a consultor de negócios:
Qual é o papel do contador em uma organização? Se você perguntar a qualquer profissional de contabilidade, muitos responderão que cabe a eles organizar a documentação, as finanças e o pagamento tributos de uma companhia. Essas atividades são padrão e de fato elas devem ser cumpridas. Mas já passamos da época em que a profissão se resumia a isso, aqui estamos falando do guarda-livros, que tinha sob sua incumbência a escrituração dos livros principais de contas (i.e., Diário e Razão), um trabalho altamente mecanicista e que exigia pouca especialização e quase nenhum conhecimento científico.
Com o passar do tempo, o comércio e a economia cresceram significativamente e, de igual forma, esse profissional passou a ser cada vez mais importante para a sociedade, de modo que o simples cuidado com as obrigações assessórias aos poucos foi deixando de ser a sua principal função.
Nesse processo, o contador precisou se adaptar às novas exigências do mercado, deixando de lado o paradigma de “guarda-livros” e assumindo o papel de um consultor de negócios. Hoje, buscar como ser um contador consultor pode significar atender a uma das necessidades mais desejadas pelos empresários.
Contador tradicional x Consultor de Negócios:
O Contador tradicional é aquele trabalhador burocrático, preocupado exclusivamente com o atendimento ao fisco e com pouco (ou nenhum) relacionamento com os gestores das empresas para as quais presta serviço. É um profissional introspectivo, alheio às mudanças e que passa o dia inteiro em seu escritório, evitando o contato com o público. Em outras palavras, ainda é o “guarda livros”.
O Contador consultor, por sua vez, é exatamente o oposto. É um profissional ativo, sempre preocupado em passar informações cada vez mais precisas e eficazes aos seus clientes e constantemente ajudando os gestores na tomada de decisão. Esse tipo de contabilista sabe que o atendimento às obrigações assessórias é essencial, porém não é a sua única função.
Este novo profissional já percebeu que o cumprimento das exigências fiscais atualmente é feito, em boa parte, por softwares e programas que, com o incrível avanço da tecnologia da informação, facilitaram muito esse serviço burocrático. Assim, ele focou seus esforços no outro viés de seu trabalho, no qual ele se tornou um ator fundamental: a implantação e manutenção de sistemas de informações que auxiliem no desenvolvimento das empresas.
Obviamente, para que você possa chegar a uma condição como essa não se trata de uma guinada que ocorrerá da noite para o dia. É preciso acumular certa experiência e pensar além do desenvolvimento das funções que atualmente são vistas como essenciais. Você precisa fazer mais e melhor e os seus conselhos devem resultar em mais oportunidades de negócio ou lucratividade para a empresa para a qual você presta serviço.
Então, se você acha que o seu lado “guarda-livros” ainda está exercendo muita influência em seu trabalho, veja algumas dicas de como despertar para esse novo perfil:
1. Domine as ferramentas e se especialize
Um contador que esteja disposto a se tornar um consultor precisa estar na vanguarda do conhecimento. Para isso, apenas acompanhar as mudanças legislativas no dia a dia não é suficiente. Você precisa conhecer as ferramentas disponíveis no mercado e saber como tirar proveito de cada uma delas em diferentes circunstâncias.
Sabe aquelas pessoas que quando veem uma novidade já torcem o nariz porque isso vai mexer naquilo que elas estão acostumadas? Não seja essa pessoa. Busque sempre conhecer as novidades e tente se tornar um especialista nas principais ferramentas. Quem começa a corrida primeiro ganha uma boa vantagem contra os competidores.
2. Conheça o impacto do seu trabalho
O ditado popular diz que se conselho fosse bom não era de graça. De fato, essa regra se aplica aos consultores. O que eles precisam oferecer para as empresas são mais do que conselhos, são soluções, afinal você não está fazendo isso sem custos, não é mesmo? Para que você possa ser assertivo em suas sugestões, é preciso conhecer melhor o impacto delas.
Há muitas teorias no mundo contábil que no papel funcionam muito bem, mas na prática nem sempre o resultado é o esperado. Isso porque na hora de colocar em execução alguma coisa há sempre outros fatores no processo, o que inclui até mesmo a não aceitação de certos processos ou falta de pessoal qualificado. Assim, aprenda primeiro a observar o todo de uma organização e qual é o real impacto de cada decisão.
3. Mostre com números: use as métricas a seu favor
Se há uma coisa na qual você deve ser bom é no manejo com os números. Porém, não use a sua habilidade apenas para dar bons resultados para os seus clientes, mostre também aos seus prospectos do que você é capaz de sugerir como decisão. Uma boa maneira de fazer isso é criando métricas simples que indiquem o quanto o seu trabalho pode impactar uma empresa.
Por exemplo, se a sua consultoria fez com que uma empresa aumentasse o faturamento em 20%, use isso como um ponto a seu favor, mas mostre ao cliente com números como isso aconteceu. Evite discursos vazios. Quando um cliente vê que investindo um determinado valor no seu trabalho ele pode aumentar a sua lucratividade no futuro, o que passa a ser discutido não é mais o “quanto custa”, mas sim o “quando começar”.
4. Seja proativo: relacionamento é tudo
Uma boa parcela da definição que leva alguém a contratar um serviço de consultoria é a empatia e confiança que o empresário e os gestores têm com o consultor. E para conseguir isso não há outro jeito do que estreitar os relacionamentos. Pense sempre da seguinte forma: se eu fosse cliente, como eu gostaria de ser atendido por esse consultor?
Software por software, muitas empresas acabam se colocando em pé de igualdade, de forma que o que acaba fazendo a diferença é aquele que consegue mostrar de forma mais clara o que deve ser feito. Seja solícito, antecipe-se a eventuais problemas e esteja atento a propor novas soluções e novos serviços sempre que for cabível. O empresário quer ver o consultor como um parceiro e não como apenas mais um vendedor tentando vender um serviço.
Trabalhando esses aspectos e buscando sempre a melhoria constante, você poderá se tornar um profissional melhor, maximizando as suas qualidades e competências. Vamos lutar para formação de mais “Contadores Gestores”, pois assim estaremos valorizando e enaltecendo ainda mais a classe criada pelos nossos ancestrais guarda-livros.
A profissão do contador continuará evoluindo, deixando para trás o estigma de “o cara do imposto” para se tornar, cada vez mais, um consultor de gestão, tendo grande influência nas decisões estratégicas de seus clientes.
Nenhum comentário:
Write comentários